sábado, 2 de julho de 2011

RADAR: ARTE TERAPIA com IRENE ESPÍNDOLA

A arte como terapia

"A arteterapia é um recurso artístico aplicado em situações terapêuticas Sabe-se que a arte é uma forma de expressão humana desde a Idade da Pedra e que responde a uma necessidade individual e social. O termo “arte” refere-se de modo geral a diversas linguagens artísticas. A atividade pode ser reveladora e proporcionar reflexões e insights.

O termo “arteterapia”, todavia, designa um trabalho de profissionais que utilizam as “artes” como recurso terapêutico. É uma prática que usa os diversos canais expressivos das artes, como música, teatro, literatura, fotografia, dança, expressão corporal e, em especial, as artes plásticas como facilitadores do acesso ao universo simbólico e imaginário do ser humano.

Como se vê, é um campo com especificidade própria e não apenas a junção de conhecimentos de arte e psicologia. É preciso uma formação com corpos teórico e metodológico próprios. Há necessidade de conhecimento das relações entre processos criativos, terapêuticos e de cura, com técnicas fundamentadas em conceitos teóricos com vivência pessoal e prática supervisionada por professores capacitados e com experiência na área.

A arteterapia acessa e normalmente abre canais de expressão e elaboração de conteúdos internos, permitindo novas e positivas descobertas, dissolução de conflitos emocionais e psicológicos, sendo indicada para todas as pessoas que tenham sofrimento interno ou que vivenciem doenças, traumas, lutos ou dificuldades na vida. É indicada também para pessoas que desejem ampliar o conhecimento de si e dos outros, elevar sua autoestima, lidar com sintomas de estresse ou para apenas desfrutar do prazer revitalizador do fazer artístico. Com diz Fayga Ostrower, “Criando o homem se recria”.

Tanto adultos, idosos, crianças e adolescentes são beneficiados não só em doenças, mas na promoção da saúde. Nas doenças, a arteterapia atua especialmente quando a linguagem verbal é muito crua e dura para expressar experiências traumáticas e dolorosas. A imagética e a linguagem simbólica e metafórica permitem melhor expressão.

Princípios terapêuticos

A arteterapia difere de outras formas de trabalho com artes, porque tem fins e objetivos próprios, fundamentada em princípios terapêuticos específicos que norteiam a prática artístico-criativa, proporcionando experiências de criação, de autoconhecimento e crescimento pessoal, pelo desenvolvimento da personalidade, sob o olhar e a orientação do arteterapeuta com formação específica.

O eixo de construção da formação do Instituto da Família (Infapa), de Porto Alegre, e da Sedes Sapientiae, de São Paulo, é a abordagem gestáltica, que, em arteterapia, dá ênfase na relação terapêutica em que se percebe reações, privilegia o olhar fenomenológico, enfatiza a relação com o cliente, prioriza a atenção à presença e comportamento verbal e não-verbal do cliente, visa a qualidade do contato, o relacionar-se com o material, as cores e as formas.

Também dirige a atenção para sentimentos, sensações e intuições que conduzem a insights significativos, dando maior valor ao processo criativo em si e menos ao resultado estético da obra. E ainda estabelece uma postura dialógica profunda, levando o cliente a estar presente no aqui e agora.

O papel do arteterapeuta

Nessa abordagem, que pode ser em grupo ou focal, o arteterapeuta serve de guia, facilitador e incentivador da busca, sugerindo experimentos e auxiliando na descoberta de novos caminhos, sustentando que o cliente pode ser agente da própria saúde e encontrar sentidos relevantes de vida. O arteterapeuta não interpreta o trabalho, apenas ouve do cliente o significado que ele próprio encontra, provocando e incentivando sua verbalização.

Impossível, no entanto, falar em arteterapia sem revermos brevemente a sua história no Brasil e no mundo. Surgiu nos Estados Unidos como profissão após a Segunda Guerra Mundial, iniciada por Margareth Naumburg, professora de arte em escolas de vanguarda em Nova York. Ela percebeu como a arte ajudava crianças e adolescentes em seus processos de desenvolvimento pessoal. Nas décadas de 30 e 40, explorou a eficácia do trabalho com arte no campo da psicoterapia e da psiquiatria. Em 1947, publicou sua primeira pesquisa e, desde então, este campo se desenvolveu e ramificou em várias linhas e escolas.

No Brasil, surge no Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em São Paulo, com estudos do médico psicanalista Osório César, que criou a Escola Livre de Artes Plásticas para tratar pacientes psiquiátricos no Hospital. Destaca-se também a importância de Nise da Silveira, psiquiatra Junguiana, que, em 1946, criou Atividades Expressivas Espontâneas no Hospital D. Pedro 2º, no Rio de Janeiro. Ela via o trabalho criativo como uma força curadora. Em 1952, ela funda o Museu de Imagens do Inconsciente no Rio, um centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos produzidos em modelagem e pintura, valorizando-os como documentos que abrem novas possibilidades para uma compreensão mais profunda do universo interior do esquisofrênico.

Posteriormente, no Brasil, em 1982 no Rio de Janeiro, Angela Phillipini fundou a Clínica Pomar, com abordagem Junguiana. Selma Ciornai, em São Paulo, criou e coordenou Curso de Especialização em Arteterapia, com início em 1989, com abordagem gestáltica e fenomenológico-existencial no Instituto Sedes Sapientiae, estendendo-se para o Infapa, em Porto Alegre, de onde vem minha formação.

A arteterapia com pacientes da oncologia pediátrica tem a sua especificidade e métodos próprios. Os exercícios meditativos e respiratórios são importantes como meio para aliviar a realidade tão doída e as tensões que advêm da dor. Por meio de vivências de meditação conduzida, ensina-se também o cliente a transitar pela fantasia para aliviar o que se torna às vezes incontrolável.

O uso da expressão plástica, do brinquedo e do desenho muda o foco da doença e leva-os a momentos de criação em que se estabelece uma fala com os pincéis e a tinta, possibilitando-lhes a verbalização do que não pode ser dito com palavras.

Nem sempre é possível intervir de modo a reverter o curso da doença. Na oncologia, transitamos entre possibilidades e limitações. O papel do arteterapeuta é de acompanhar o cliente até onde ele vai, dando-lhe suporte que lhe possibilite um entendimento da situação e para que ele encontre um sentido para a experiência que vivencia.

*Artista plástica e especializada em arteterapia pelo Instituto da Família (Infapa) em convênio com o Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo. Também fez estágio em arteterapia no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e no Centro de Convivência Turma do Ique, que trabalha com crianças com câncer."

* IRENE ESPÍNDOLA

Fontes de consulta

- ‘Arteterapia Gestáltica: Uma Abordagem Fenomenológico-Existencial’, de Selma Ciornai. 7º Congresso Internacional de Psicopatologia da Expressão. Rio de Janeiro, 1998

- ‘Percursos em Arteterapia’, de Selma Ciornai. Editora Summus Editorial, 2005

FONTE: http://www.oficiocriativo.com.br/?p=772#content

3 comentários:

  1. Descobri seu Blog hoje e nao paro de me deliciar!Parabéns!

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  2. Amiga,

    Esse foi um dos motivos pelo qual ingressei no artesanato. Busca pela terapia e encontrei maravilhosos e prazeirosos momentos de alegrias aqui, nesse mundo virtual!

    Parabéns pela postagem!

    Mil beijinhos e uma semana maravilhosa prá vc!

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