quarta-feira, 30 de maio de 2012

ENTRE NÓS com MARIA EMÍLIA BOTTINI

BANQUETE DO AMOR
Maria Emília Bottini
Um filme de Robert Benton (2007), em que retrata alguns temas fundamentais da vida como: relações amorosas, separação, morte, gravidez, homossexualidade feminina, casamento, terceira idade, lutos e por aí vai.

Comprei este filme porque Morgam Freeman estava na capa, tão somente por isso, gosto deste ator é um de meus favoritos, não entendo porque ainda não tenha recebido uma estatueta de melhor ator da academia de cinema hollywodiana, considero isso uma injustiça pelo talento que dispende em suas atuações. Veja-o em Invictus quando interpreta Nelson Mandela, um dos poucos políticos que admiro no mundo.

Estava num dia daqueles em que nada queria fazer, nem ler, nem estudar, em dias como esse me permito fazer nada, me permito ver a vida passar, então vi ao DVD que há muito estava na minha casa e lá se foram algumas horas sem nada fazer a não ser viver a intensidade do cinema e de minhas emoções que foram bem exploradas em meu entender.
Narrativa que lentamente vai crescendo em dramaticidade e culmina com cenas deverás comoventes, oportunizando uma reflexão importante dos sentimentos, das emoções que nos assolam e por vezes nos maltratam e em outras nos exaltam. Harry narra a história que se desenrola e revela os percursos que os sentimentos percorrem em nós e no outro e mostra o quanto nós, humanos inevitavelmente os necessitamos e os buscamos por vezes desesperadamente para não nos sentirmos tão sós, por vezes ficamos mais sós do que já estamos.

Muitas são as histórias que este filme conta, elas acabam se encontrando e formando um belo filme, que vale a pela assistir e indicar. Vou contar apenas uma delas. Por ser a que mais me tocou, me afetou.

Um casal de idosos que se relacionam de forma amorosa e com profunda sensibilidade, vêm juntos a vida passar nas idas e vindas dos anos que a relação tem, nos vizinhos que chegam e se mudam. Harry esta sem trabalhar e passa longas horas no restaurante de um amigo, lá acompanha o que se passa com algumas pessoas e suas trajetórias de vida, sentimentos, escolhas, o elegem como uma espécie de conselheiro, de mentor.

Ao chegar em casa comenta algumas histórias e acontecimentos com a sua esposa que lhe cobra que volte a desenvolver as atividades profissionais de professor, porém a perda do filho por overdose de heroína é a dor que cada um carrega a seu modo, a depressão que sente o impede de seguir trabalhando. Esses pais absolutamente nada puderam fazer para evitar tal sofrimento. O luto os devora e dificulta que a alegria se faça presente, o que de fato é compreensível. Relacionam-se com uma jovem que trabalha no restaurante e não tem ninguém, está só após a morte do namorado, no decorrer da narrativa ela solicita que seja adotada por ele e sua esposa o que lhe faz questionar sobre as condições de ser pai novamente. A resposta a esse questionamento desencadeia um processo de resgate do papel de pai apesar da dor da perda do filho.

Embora uma ficção, remonta a uma triste realidade de pais que veem suas vidas atravessadas pela droga que ceifa vidas precocemente.

Como suportar a dor de enterrar a quem deveria enterrar seus pais?

E como se reconstruir das ruínas emocionais?
Como suportar a dor e a culpa que dilacera entranhas, talvez a única forma de superação de Harry é desligar-se do mundo do trabalho, voltar-se para si e encontrar forças para reconstruir-se e voltar a viver, não sem dor. A superação da dor está no de tornar-se pai-cuidador novamente.
Assista ao filme, veja as outras histórias, por vezes lhe fará chorar e tenha um banquete servido com delicada amorosidade e sensibilidade que o cinema é capaz de nos oportunizar.
[i]Psicóloga, Terapeuta Comunitária, Professora Universitária, Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Assina a coluna Cine Emoção do Conselho Regional de Psicologia 1º região – DF.


"Harry – Há uma história sobre os deuses gregos. Eles estavam entediados, então inventaram o ser humano. Mas continuaram entediados, então inventaram o amor. Assim, não se entediaram mais. Então decidiram experimentar o amor. E, finalmente, inventaram o riso para que conseguissem suportá-lo."

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